terça-feira, 29 de novembro de 2011

Vida breve e brevidades


Walnize Carvalho

Quem haveria de imaginar, que dentro daquele pacotinho plástico a mim entregue com tanto carinho, iria encontrar algo que iria adocicar o meu dia, aguçar meu paladar e - mais do que tudo – encher meu coração e mente de tão doces lembranças?...
Quem diria que aquele bolinho (arrumado em fôrma de papel) feito de açúcar, ovos, margarina e polvilho, iria me inspirar para esta singela crônica?...
Sem querer prolongar a expectativa e dissipando a curiosidade do ouvinte esclareço que, a guloseima a que me refiro, tem o nome sugestivo de: Brevidade.
De repente, minha saudosa memória, visualiza a vovó Mocinha, arrumando a mesa do lanche da tarde com toalha bordada, xícaras e bules de porcelana (com chá e café), biscoito de araruta, pãezinhos em formato de trança e... brevidades!
E também, repentinamente, me dou conta da efemeridade do tempo!
Num gesto de rapidez, levanto-me e vou buscar na estante de livros da sala, um que bem ilustra esta minha reflexão matinal. A referida obra intitula-se: “Sobre a brevidade da vida” do filósofo romano, Sêneca.No livro, o sábio fala da natureza finita da vida humana.No correr das páginas, vão sendo apresentadas “maneiras de prolongar a vida e livrá-la de mil futilidades que a perturbam sem, no entanto, enriquecê-la”.Escritas há quase dois mil anos, estas cartas compõem “uma leitura inspiradora para todos os homens, a quem ajudam a avaliar o que é uma vida plenamente vivida”...
Reponho o livro na estante, retomo a escrita e enquanto penso em palavras breves para finalizar a crônica, a doce figura da grande poeta goiana (Cora Coralina) que “se achava mais doceira do que escritora”, vem em meu socorro. Ela deixou patenteada esta afirmativa: “Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas.Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”...
Palavras dignas de saborear.

A mim, só resta degustar a última brevidade do pacote, que ao se desmanchar na boca deixou o gosto “ de quero mais” e a certeza de que, os prazeres da vida não duram uma eternidade.

A receita de Brevidade

Ingredientes:

6 ovos
400 g de açúcar refinado
500 g de polvilho doce
canela a gosto
1 pitada de sal


Preparo

Separe as claras e coloque na batedeira. Ligue a batedeira na velocidade mínima e vá aumentando até chegar ao máximo. Deixe bater por 10 minutos. Coloque as gemas e bata novamente. Acrescente o açúcar aos poucos, com a batedeira funcionando. Junte a canela e uma pitada de sal. Por último, o polvilho. Bata novamente até a massa ficar borbulhado.

Vire a massa em forminhas de papel colocadas dentro das formas de alumínio, com o cuidado de encher só até a metade. Também pode ser usada uma forma normal de bolo, untada e polvilhada. Leve ao forno pré-aquecido, por 10 minutos, em fogo brando.

Obs: O segredo da brevidade é bater a massa bastante para que ela fique bem fofinha


1 comentário:

Paulo Francisco disse...

Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina.”...

Estou a saborear. Belo texto.
Um abraço

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